Livro "Quimeras Desconcertantes"

sábado, 24 de outubro de 2009

Inconstantes quereres

Nunca é o bastante para ti...
nunca te chega...
afinal tens o mundo...
mas acha lo tão pequeno...
tão sórdidamente pequeno...
que destróis tudo à tua volta...
revoltas-te com os magos...
porque te renegaram seres a Deusa de todas as almas...
que não te pressentes...
que para seres rainha de alguém...
primeiro vais ter de ser a rainha de ninguém...
vais ter de conquistar reinos, jóias e coroas,
nas tuas batalhas interiores,
onde só tu ganhas e perdes,
e só tu...
és o que desejas...
rainha de todas as almas...
rainha dos magos e reis.
rainha de quem quiseres
e de quem não quiseres...
mas afinal...
de todos os que conseguiras ser rainha...
nunca poderás dizer...
que és rainha de todos os alguens...
porque nesse reino...
eu não existo...
nesse reino...
não és a minha rainha...
e nesse reino...
não mandas em querías mandar...
não te perdes onde te querias perder...
nem vives...
o que querias viver...
logo es rainha...
sem o ser...
sonhas...
e vives...
as quimeras de uma rainha...
que permaneceu num passado...
a pensar num futuro...
esquecendo-se...
que no presente...
me perdeu.

Ciclos de vida

Choro...
não tenho dores.
mas choro,
custa acabar,
custa romper,
custa perder...
por isso choro...
não porque tenho dores...
mas porque as tive...
e na nostalgia do sentir,
as dores que como as marés,
vêm e vão,
e nos mostram que afinal nem acabou nem recomeçou,
e que nada termina nem nada recomeça,
que o passado fará sempre parte do futuro,
e que o futuro é tatuagem no passado,
e quando julgares
que a dor passou,
algo se levanta...
uma lágrima cai,
um grito largas,
e pressentes...
que nem só as estações giram
ano após ano...
também tu...
dentro de ti...
ciclicamente...
pressentes,
ris, choras e amas...
ciclicamente...
ano após ano...
mês apos mês...
vida após vida...
não consegues parar o ciclo...
porque quando não amas...
sabes que voltarás a amar...
e quando estás a amar...
sabes que poderás em breve...
estar a chorar mais um terminar...
mas nesta vida...
de ciclos e anseios...
a única coisa que sabes...
que será dogmática para tí...
é que tens alma e sentimentos...
e que em cada ciclo...
algo permanece...
em todos os estados de alma...
em todos os estados de ânsia...
é que tanto tu como eu...
seremos sempre humanos...
em que quando mal nascemos...
aprendemos...
a sentir...
porque afinal...
eu e eu...
eu e tu...
...
temos alma.

Eu, tu, eles...

Sou louco
porque afinal
todos são perfeitamente lucidos.
E eu que distorço a realidade.
Nasci nesta distorção.
Vivo nela.
Sinto-a como minha, acordo e adormeço.
E nesta minha visão
que é a minha loucura,
cá permaneço,
enquanto o relógio anda,
e marca o passo
das vidas do que me rodeiam.
e a mim parece me gritar ao ouvido...
já é demasiado tarde...
para fazer o que tenho de fazer amanhã.
Deus é testemunha,
Deus é o meu parceiro,
Ele ouve-me,
e eu ouço-O,
Ele ajuda-me,
e eu ajudo-O,
neste desconcerto,
que é o meu mundo,
onde não sabes nem pressentes,
mas também tu vives nele,
também tu tens um papel a desempenhar,
neste mundo de brocados,
que composto por quimeras desconcertantes,
foi feito para as mentes brilhantes,
onde a paixão não morreu,
os magos, reis e principes ainda existem...
e eu que sou o bobo da corte,
deste reino que também sou rei,
cá permaneço do deitar ao acordar...
a pensar que nesta realidade sonho,
e nesta irrealidade vivo,
afinal quem somos...
afinal quem sois...
afinal quem sou...
se não mais alguém...
que nasceu... viveu e morreu...
e um dia pensou...
que também terá o seu luar,
e o seu amar...
e que foi alguem, é alguem e será alguem...
logo merece sonhar...
merece concretizar...
merece ter...
merece permanecer...
e dizer...
das quimeras fiz brocados...
dos brocados sonhos...
e dos sonhos que emuldurei...
sete vivi...
sete perdi...
e sete anseio...
por voltar a sonhar.

Choro nas brumas

Levantas-te e achas que nada está bem
O choro das crianças,
a fome de almas
que como tu e eu,
precisam de se alimentar,
beber, viver.
E por hironia do destino,
e por anseios de quem nunca nada teve,
nem nunca terá...
se perdem em choros e dores,
de quem quer comer,
e não come.
De quem quer beber água,
e os deuses a negam,
a eles...
que são filhos do vento...
filhos que tiveram o azar,
de serem filhos dos pais,
dos deuses da fome,
e do destino,
que ao seu primeiro choro,
os abençoou,
com a profunda dor...
de nem ontem, nem hoje, nem amanhã...
poderem a sua alma engrandecer,
e dos sonhos viver,
porque os mais básicos anseios,
passam pela fome e pela sede,
que nem tu nem eu sentimos...
mas os filhos do vento...
as tomam pelas suas biblias,
pelos seus dogmas,
e pelos seus dez mandamentos...

S.O.S. lançado

Olho os céus
um SOS lançado e o amor anda perdido.
Um uivar distante com lobos a arrancarem pedaços
levanto-me da imensa rotina,
o coração quer alcançar
não sei bem o quê,
não sei bem quem.
já coloquei a mochila nas costas,
tirei do armário o necessário,
um livro, um perfume, e um diário.
A jornada começa.
ou recomeça.
Mas digo sim ao SOS.
Hei-de lutar contra os lobos,
hei-de fazer reclamar os meus reinos.
E nestes céus
que te banham a tí, a mim, a nós.
Serei eu, serás tu, seremos nós.
Nesta jornada de SOS.
De algo encontrar, e nada procurar.
De ansiar, o que não se sabe bem o quê ou o porquê.
Mas dizemos sim...
ao SOS.
que tu lançaste, que eu lancei, que nós lançamos,
E do armário também levo uma tulipa já seca,
ela ficou perdida no tempo e no espaço,
mas ela é tua,
não sei afinal quem és,
nem tu sabes quem eu sou.
afinal porque precisariamos saber...
se o que queremos é a aventura.
da procura e da vida.
Afinal o que queremos,
é um dia... seja ontem, hoje ou amanhã,
eu poder te entregar esta tulipa seca.
Que apesar de perdida no espaço e no tempo,
vai bem presente no seu sentimento...
vem dizer que no armário fui guardada,
no armário sequei,
mas no armário...
não esqueci que afinal...
também eu sei amar...

Moço - Homem

Choro de menino...
que se perde em terras distantes,
choro entoado pela fresquinha da manhã...
onde os corações se dizem adormecidos,
e as almas amansadas pelos episódios das noites dormidas.
Choro de menino, encantado pela descoberta,
de que já não é um menino,
e aquele monte de areia perdido na cidade,
já não é um mundo de fantasia...
Agora a magia, reside naquele coração,
que fez despertar o seu...
Acabou de nascer o menino...
Moço-homem...
Águia que cresce dentro de sí...
ansiosa por um beijo alcançar,
e mago se sentir...
na descoberta de todo um amar...