Livro "Quimeras Desconcertantes"

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Enterro-te na minha campa


Fizeste-me idolatrar a morte...

Fizeste-me não ter merisecórdia comigo...

A vida passava...

E eu cavava...

Sepúltura funda...

Sempre que vía gritos vãos lançados...

Eu só dizia...

Que fiz eu agora...

Para mais chagas me serem abertas.

Eu tanto te amava...

Que só quería ter-te para sempre bem junto da minha pele.

O teu cheiro era o meu opium...

O teu perfume o aroma do meu cigarro...

Eu perdia-me a ver-te dormir...

Idolatrava teus cantos de sereia...

E esquecia as atrozes feridas...

Lançadas em noites de lua cheia...

E quando o abandono sentía...

Perguntava-te se te podía-te matar...

Para poder perdurar o teu calor...

nas palmas da minha mão...

E nunca mais ninguem te poder roubar...

do meu olhar...

...

amava-te mais do que um anjo ama um deus...

essa imensidão trespassava as minhas glórias...

elas que depois de te conhecer...

deixaram de ter asas...

e as tuas glórias...

essas sim,

passaram a ser a minha biblia...

os teus mandamentos...

eram os meus dogmas...

fui vivendo no teu olhar...

e quando nos amavamos...

a minha alma abandonava-me...

a carne despregava-se...

e naquele rodopio de sentimentos...

em que vestias peles de mil mulheres...

dançavas para mim india na dança...

glamour no ser...

sedutora no me ter...

prendias-me sem o quereres...

ou querías-me para sempre a teus pés...

para um seguidor de uma endeusada teres...

cada vez mais me embriagavas no teu perfume...

para no fim sem merisericórdia...

me espetares uma faca no coração...

E agora????

Não existe piedade no meu olhar.

Não existe sonhos encontrados...

Só sonhos perdidos...

Que ficaram em gavetas perdidos...

no meio de tantos caminhares...

Perdurarás para sempre...

Sonho terno, eterno, doloroso.

Mágoa de um passado.

Mordaz dor que se enterrou lá atras...

E agora ergo sepultura

Neste monte em que me vês...

enquanto lá debaixo...

me vais espreitando...

sem coragem para sequer...

cruzares teu olhar no meu agora mordaz olhar.


Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo...

fiquei perplexa e completamente sem palavras...

muito profundo... adorei mesmo...

Parabéns. Continua...