Livro "Quimeras Desconcertantes"

sábado, 10 de janeiro de 2009

A cortesã



Vívia na solidão...

Numa tremenda solidão...

Solidão que me abençoava os olhos...

Os dias cópias de canções de discos riscados...

Momento vibrantes só quando nos sonhos adormecía...

E a anestesía fazia-me adormecer da solidão...

Existem noites iguais a tantas...

E tantas iguais a outras tantas...

E eu vívia nesta imensidão de cópias...

Onde as rotinas eram a minha forma de viver...

E os meus sonhos...

Nada mais do que meros acordares da rotina...

Para logo depois adormecer...

Outra vez noutra cópia...

Mas esta noite não era uma noite igual...

Diferente delas todas...

Saí para tomar um café...

Saí para algo mudar...

Ultrapassei a estrada...

Ameno tempo...

Amena brisa...

Numa noite coberta de brumas...

Estava para entrar naquele café...

Onde a rotina sería substituida por outra rotina...

E lá estavas tu...

A olhar para mim...

Cortesã da noite...

Cortesã... dos ricos e dos pobres...

A que faz sonhar quem não sonha...

Estavas a chorar...

Fumavas uma cigarrilha...

Vestida com um vestido comprido...

de gala...

as tuas meias de rede...

as tuas luvas de preto cetim...

e as lagrimas descubriam uma perfeita maquilhagem...

Desviei-me da porta do café...

E cheguei-me ao pé de ti...

viraste-me costas...

Como envergonhada...

Desprezada pela vida...

Desprezada pelos homens...

Que te usam pelo corpo...

Que te usam pelo prazer da carne...

Choras de dor...

Choras de rancor...

Mal te seguras nos teus botins de cristal...

O teu cabelo dourado...

O teu sorriso meigo...

E as lagrimas de cristal...

Não quero saber se amas-te mil homens...

Não quero saber se vibras-te mil vezes...

Choras...

A dor magoa-me...

E faz-me sair da rotina de não sentir...

Quero sentir as tuas lágrimas na minha face...

Quero beijar o teu rosto de cera...

Pego na tua mão...

E levo-te dalí para a minha casa...

Coloco-te em frente a uma lareira...

descalço os teus lindissimos pés...

E fico ajoelhado a teus pés...

Olhando o teu lindo rosto...

Que fica a olhar o infinito dentro das labaredas da lareira...

Levanto-me...

Beijo teus lábios...

...

E como se tivesse carregado num botão mágico...

Tu sorris para mim...

Com um olhar tão terno...

Com um olhar tão mágico...

Levantas-te...

E ao som de uma música melancólica danças para mim...

O teu vestido brilha...

E tu danças uma valsa sózinha...

Com o calor a nos aquecer as almas...

Cortesã antes...

Agora uma menina...criança...

Que brinca ao som da música...

E sorris para mim...

Nesta noite...

Presente de uma vida...

Fim de uma noite de rotinas...

Deitas-te ao pé de mim...

A sorrir...

Beijas-me...

E agarras-te ao meu pescoço...

E por lá adormeces...

Abraçada com tanta força...

Que parece que tens medo que eu não seja mais nem menos...

Que uma visão das brumas...

Mas está descançada minha doce cortesã...

Que a partir de hoje...

Não vais ter de cantar mais canções...

Nem viver mundos que não os teus...

Não mais te vou largar...

Mil homens te beijaram no passado...

Mas só um neste futuro que hoje começa...

Irás agora amar...

Para mim nasces-te...

Para mim és virgem e casta...

Para mim...

Que te irei desposar...

Serás a partir de agora a mulher mais integra...

A mulher mais apaixonada e feliz...

Agora que simplesmente...

Me quebras-te a rotina...

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