Livro "Quimeras Desconcertantes"

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Queimar a Terra, Rasgar a Alma



Nasci para gravar,
nasci para marcar,
cada pedra do meu caminho,
cada percurso do meu destino.
Não sou ninguém,
mas sou tudo…
Sou Deus na terra,
E Maria no Céu,
mago de mim mesmo,
na terra construo,
no céu reescrevo,
marco-me para vencer,
nem que para isso tenha de morrer,
nascer,
renascer,
e morrer,
mas nasço para vencer,
e quebrar,
quebrar-me a mim mesmo,
quebrar-te a ti,
e a todos que marco...
eu vou-te marcar,
olha para mim,
olhar siderado,
olhar em quimeras,
transporto droga,
transporto paixão,
transporto o toque...
o toque do sonho dos poetas,
que tendem a viver...
dia a dia...
à procura da fonte que mata,
esta maldita sede de infinito,
que nos rima nas noites de cigarrilhas,
perdidas pelos fumos dos cafés,
pelos copos de whisky,
tentando abrir o nosso espirito,
à nossa própria alma, ao nosso próprio siderado ser.
Maldito sejas...
corpo demente, corpo viciado,
por seres tão sedente nem sabe do quê nem de onde,
sedento de uma droga vaporizada,
droga que injecto na alma,
dia após dia,
tentando acalmar a sede,
tentando acalmar o desejo,
tento trilhar...
pedras e caminhos,
pode ser que se fechar os olhos,
e voar de braços abertos,
o corpo não se queime,
e as asas rasguem das costas,
e num voo louco e caótico,
mato a sede,
ou só descubro...
que irei morrer à sede...

… mas é nas entrelinhas dos outros sedentos,
que acabo por acalmar a minha sede,
nos versos soltos,
de outros poetas,
de outras almas desamparadas,
magas sonhadoras,
magas loucas,
que desejam o que eu desejo,
mas como eu...
não sabemos o que desejamos...
nem para onde vamos,
sabemos por onde não vamos,
em que altares não nos ajoelhamos,
mas …
o resto…
…isso leva a escrita…
Lida só por nós mesmos,
Como se de Bíblias as tomássemos,
Não são nada…
Folhas soltas,
Frases mortas,
Que já tantos escreveram…
Gastas em tantos verbos,
Gastas em tantos desertos…

Pode ser que um dia…
Construa-mos um altar nós mesmos,
Onde possamos queimar essas folhas,
Em rituais desconcertados,
E talvez aí…
Talvez aí…
A nossa sede seja saciada.




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